Numa sociedade perfeita a discussão entre o bem (ética) e o belo (estética), nunca se colocaria, porque numa sociedade perfeita seria inimaginável separar as duas realidades. Uma completaria a outra.
Na nossa sociedade ocidental, mas não só, as imperfeições não nos permitem visualizar esta realidade conjunta e a nossa tendência é ainda de separar uma da outra ou, pior, valorizar uma em relação à outra. Podemos também, através de um exercício de criação, fundir os dois conceitos. Esta fusão de conceitos tem as suas armadilhas: pode ser um exercício puramente académico do qual não resultará nenhuma análise crítica, capaz de transformar; pode gerar um modelo dogmático de sociedade, que irá cristalizar e, portanto, limitar a liberdade de criação e de evolução.
Na arte, seja a pintura, a música, a fotografia, literatura ou outra qualquer, deve ser subjacente o espírito crítico: um espírito crítico que nasce da observação do mundo que nos rodeia alicerçado no conhecimento.
À priori a arte assenta na crítica, seja ela social, económica, política, cultural, etc., a arte é, ou deveria ser, um motor de transformação e não somente um veículo de comunicação.
O conceito de belo não se reduz àquilo que encanta os nossos olhos ou a nossa mente. Belo pode ser aquilo que nos choca pela sua crueza ou degradação, porque ao transmitir um sentimento de repulsa, está a contribuir para um desenvolvimento do nosso espírito crítico, o único que nos poderá conduzir à sublimação entre o bem e o belo e promover a transformação da mentalidade humana.
O conceito de bem também pode ter várias interpretações: o que é bem para este, pode não ser bem para outro. O conceito de bem tem de atingir a universalidade de forma que seja clara para todos.
O relacionamento entre ética e estética assemelha-se à relação espaço e tempo, onde ambos os valores são simultaneamente complementares, sendo que no fim de um pode estar o princípio do outro.